sábado, 2 de julho de 2011

Um momento inoportuno

O tempo passa lânguido na sua esfera de intemporalidade, indiferente ao mundano quotidiano. Acompanhado pelo vento, seu irmão de erosão, seu companheiro de indiferença perante a insensatez da alma humana. Ambos desfiam os nós incompreensíveis do desconhecido, qual mistério escondido por uma capa de um preto profundo.

Soltas os teus leves passos pelo compartimento interior do teu espaço solitário caseiro, espalhando a tua graciosidade temporal às agruras do tempo. Sentes aquela brisa que invade as paredes que te envolvem, qual filho predilecto do vento eterno que tenta estender os seus tentáculos pela fina fresta da janela aberta.

Escondes para o mundo exterior o labirinto simples e desconexo dos teus pensamentos mais ligeiros e absolutos. Movimentas-te qual surto de ondas que fustiga a falésia das tuas dúvidas, moldando-a com as certezas que conquistas em pequenos momentos de frugalidade cerebral. Não tens descanso nesse teu mundo de uma insensatez perdida nos laços do destino.

O teu olhar contempla o que merece ser ignorado, os teus olhos fitam o que merece ser recordado no baú das memórias fúteis, os teus globos, pequenos, finos, compenetrados, observam as pequenas minudências que alertam o teu espírito para as infidelidades da vida, prolongadas numa dança silenciosa que se arrasta pelo tempo.

Escutas os monólogos silenciosos que aquela brisa fresca te traz, bailando com as cortinas da tua janela. Ouves o que os teus pensamentos detectam nos sons do teu mundo, analisando-os através de um espectro afunilado. Os teus ouvidos repararam na leveza dos argumentos que o destino te traz, sentindo-te incapaz de os contrariar e destruir num suave movimento de mãos.

Resumes-te à tua insignificância mundana das palavras ditas e dos pensamentos soltos, da tua existência inexistente para o destino de tantos espíritos... Para depois te aperceberes da beleza da perfeição imperfeita da tua existência, da tua pequenez única e bela, como uma flor desabrochada no meio da tristeza da rua parcamente iluminada.

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