sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Do baú das memórias: Why it has to be this way?

"Porque se insiste em ir ao fundo da questão? Ir ao mais âmago pormenor de compreensão, bombardeamento de perguntas difíceis que só podem ter respostas complicadas, explicações desconezas espelho de algo já por si estranho e complicado. Algo que se cria é porque tem bases para se criar, não surge por acaso, constrói-se por si. Há âmagos e digaçãoes guardadas a sete chaves que não podem ser soltas, mas mesmo assim tenta-se compreender, curiosidade e supostos "interesses" tentaram remexer no que não pode ser remexido e a confusão instala-se. A desordem torna-se ainda mais confusa tentando perceber o porquê de tanto escalavrar... Não se pode considerar medo de responder, é uma questão de protecção. Há caixas de pandora que não podem ser abertas, deve-se evitar abrir. Elas guardam algo que pretende sair mas que não pode antes do tempo correcto... sob pena de..."

2008-10-19
03h01

Do baú das memórias: idos de 2008

"Sento-me num banco de jardim, a luz diurna ilumina o espaço que me rodeia. Uma brisa fresca percorre a atmosfera transportando um límpido cheiro a relva húmida refrescando o meu ser. Procuro-te por entre árvores frondosas, busco o teu ser que alimenta saudades que consomem o meu interior, tento encontrar a tua companhia que tanto necessito e que tanto o meu coração clama. O teu ser ao meu lado, um olhar teu, uma palavra tua, um gesto teu."

2008-10-14
16h09

Just a simple look

O riacho corre tranquilamente. Desliza sobre as margens, sem caminho perpétuo. Passa sobre rochas, acariciando-as, passando a sua mão moldando através da erosão. A vegetação baixa junta-se para beber daquele maná transparente, o sabor da vida, o alimento imprescindível... O riacho corre traquilamente, um pequeno trajecto com um pequeno lago como destino. Um lago que recolhe as águas passadas e presentes, esperando pelas do futuro... O riacho corre traquilamente, um fio condutor de vidas e da vida. Sempre a percorrer o seu destino, um olhar para trás, um vislumbrar das pedras por onde teve que passar, que ultrapassar, para construir o seu trajecto, sementes são plantadas, dando tempo ao tempo para se desenvolverem... O riacho corre tranquilo, por entre plantas rasteiras, árvores centenárias, passos humanos que o percorrem. O dia passa lânguido na sua fatalidade, o sol desce, põem-se lançando uma última luz.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

An endless tale of an endless night

Carregas o simbolismo do mistério dentro de ti. A cada passo que tu dás, incauta, adensas o misticismo à volta do teu ser único que carrega dentro de si a divindade imperfeita dos seres mais mundanos desta sociedade torpe. A luz desliga-se, a única fonte de contacto com a realidade desaparece para sempre e ficas rodeada por toda a volta pelo negro da escuridão. Pela cortina espessa que impede a luz da sabedoria penetrar pelas densas florestas da tua ignorância, oh gotas da total incapacidade de conseguires discernir a miníma tendência de sobriedade na tua solidão inconsequente. O teu corpo não te responde, apenas sentes os teus pensamentos a voar como borboletas numa linda manhã de Primavera, procurando pelo seu porto de abrigo onde podem descansar as suas preocupações e inquietações de espírito. Mas não, não, recusas-te a encontrar o solitário labirinto das tuas promessas escondidas, promessas adiadas, desejos inauditos, esperanças vãs de uma tentativa pérfida de conseguir encontrar o inalcançável.

Respiras fundo, suspiras pelo descanso mas sentes-te presa dentro das amarras do destino. Sentes-te presa dentro da prisão que é a tua própria redoma. Abres a boca para expelir o grito mais profundo dos horrores da tua alma, mas o que apenas consegues é o silêncio sepulcral da tua incapacidade para entenderes o que é demasiado óbvio. O sofrimento que trespassa o teu coração assemelha-se a mil facas frias das gélidas águas do Atlântico Norte, arrebatando qualquer impulso de energia que o teu coração ainda guarde dentro das suas cavernas mais profundas. Tentas soltar o grito mais hediondo de revolta por teres sido demasiado ingénua, mas apenas sentes o soluçar da lágrima que se solta do canto do teu olho para gritar ela, sim gritar ela, numa voz silenciosa, muda, húmida no percurso escorreito que percorre pela tua face esculpida pelo escultor divino da beleza mais utópica. Mas que soçobrou perante o vício dos vícios dos homens corrompidos onde os valores são uma miragem e as confianças apenas a palmeira utópica no meio do deserto.

Sentes o corpo a tentar mexer, sentes os músculos a tentar reagir. Mas apenas és capaz de definhar perante a tua própria incapacidade de construíres os muros à volta da sensibilidade mais pura do teu coração mais puro. Transformado numa impureza onde a sujidade do engano apenas se sente cada vez mais profunda e escura. Escura como a noite que te rodeia, que te oprime, que te tortura no seu silêncio opressor, neste silêncio que te envolve nesta redoma onde os teus ouvidos captam o grito estridente do sofrimento mais atroz de sempre. Fechas os olhos para não sentires mais nada e de repente sentes uma calma inesperada. É a calma da morte sentimental, é a calma da última chama que morreu dentro do coração: é a chave para a travessia do teu próprio deserto, do vento escaldante que te irá fustigar enquanto caminhas, desprotegida, nua de espírito e alma, por entre as ruas do inferno sentimental. Procurando pela tua salvação, procurando por aquilo que dantes acreditaste ser possível mas que agora apenas é um castelo de cartas destruído à tua frente. Abres os olhos e apenas vês o nada, o nada da solidão, o nada da desilusão, uma mão cheia de nada, de um vazio constante. Agora sim, podes caminhar no teu deserto particular até, um dia, voltares a ver o mar e sentires a fresca brisa marítima da consolação do puro dos mais puros romantismos: aquele que sempre sonhaste e sempre te escapou, porque essa é a tua verdade e o teu destino.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

From the past: a single breath

O destino trabalha incessante. Num ápice junta dois pequenos destinos, noutro ápice coloca pedras... Pedras pacientes que demoram o seu tempo a ser ultrapassadas, mas que surgem... Ele esforça-se, põe a mente a trabalhar arduamente, mente para compreender, fecha os olhos e pensa... O que serão estas pedras, serão testes que o destino colocou para o pôr à prova, testes para realmente perceber o porquê do confluir daqueles dois pequenos destinos... Serão o quê? A necessidade das pedras, de desvios, não o conseguia entender, as pedras só complicavam, só tornavam o caminho mais penoso... Às vezes pensava, será que a dificuldade do momento é o caminho mais acertado para a certeza do destino e sua posterior conclusão... o que ele sabia é que o destino não foi inocente ao confluir, algo mexeu na sua alma...

From the past: a simple touch

Palavras saem da tua alma, expressão de um cansaço, palavras ditas fruto de outras palavras... Outras palavras expelidas com um selo de estupidez e incompreensão... Palavras saem da tua alma, com um cunho duro. A dureza dói mas é merecida, as outras palavras mais não são do que uma desordenação confusa de ideias, juntas pela insensatez. A ripidez da resposta é justa mesmo que custe... Um dia alguém disse: "as desculpas não se pedem, evitam-se". Se a sinceridade, por mais sincera que seja, mata quem a pratica... Sinceridade na estupidez das palavras, sinceridade no arrependimento...

01h30.33
2008-03-04

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Extâse Romano

Ele despertou do seu torpor, com um violento bafo de areia na cara. Esfregou os olhos e recuperou os sentidos. O Coliseu estava cheio , sem um único lugar vazio, ao seu lado um velho romano assistia extasiado ao espectáculo que decorria. Os seus olhos estavam esbugalhados de extâse, as suas feições contorciam-se à velocidade das hormonas humanas mais selvagens, um sorriso lunático cravava-se a cada segundo. Em baixo na arena, dois gladiadores lutavam contra a morte, degladiavam pela glória popular sedenta de sangue. O Coliseu fervilhava num barulho constante, o público vibrava a cada golpe, urros uivavam por cada gota de sangue espalhada pela arena escaldante. Um cheiro a suor, fedor de morte, de sangue coalhado seco, vermelho na arena, invadia a atmosfera. O lado selvático cresceu quando um dos gladiadores cortou uma das mãos ao outro. O velho que se sentava ao seu lado levantou-se de rompão, erguendo os braços num grito louco de extâse, onde se lia o prazer da morte personalizada. A mão do gladiador estava empapada em sangue, repousada no chão, o gladiador cambaleava em redor dum pântano vermelho. Sentado do seu lugar, ouviu o barulho da multidão crescer sonoramente, gritava-se pela morte, exigia-se sangue e fedor putrefacto. O gladiador sem mão ajoelhou-se sem forças e foi então que ele o viu, o imperador, na sua impecável túnica branca, a levantar-se e a estender o braço. Após uma leve hesitação, o polegar baixou, a multidão silenciou-se, esperando. Algo brilhante viajou pela atmosfera e uma cabeça rolou. O culminar da tempestade popular atingiu o seu limite, uma enorme onda de raiva alegre e regozijada encheu-lhe os ouvidos, a morte era celebrada. Ao seu lado, no momento em que a cabeça rolou lá em baixo na arena, o velho rugiu de extâse, os seus olhos bebiam o sangue espalhado em gotas e poças, a língua passou demoradamente pelos lábios saboreando. O ritual cumpria-se e ele sabia que não lhe podia escapar.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Reflexão existencialista

O ser humano, corpo constituído por alma. Mente complexa, destino incógnito. Corpo... conjunto de membros, presos entre si, movimentam-se racionalmente. Alma... força invisível, vontade imperceptivel. Amontoado de experiências, memórias erosivas e temporais, puzzle desconexo de pensamentos e destino. O que é ser?... Ser é viver? Ser é morrer? Ser é sentir? Ser é não ser?... Ser é ser, ser é sentir, viver, experienciar. Ser é juntar amontoados de pedaços esfrangalhados de alma, de destino, espalhados pela vivência, pelo tempo. Ser é sentir o que não se sente, o que não se percebe, tocar o intocável, buscar o que não existe. Ser é descobrir-se a si próprio, reinventar-se quando necessário, buscar a verdade... Corpos, pedaços de carne. Juntos, precisos, perfeitos, imperfeitos... Alma, consciência inconsciente...

domingo, 11 de setembro de 2011

Memories of an old time

O burburim cresce. Sento-me numa mesa e observo. Caras desenham-se à minha frente, espelhos de alma mostrados pelos olhos, reflexos moribundos de experiências, de sentimentos escondidos, de sentimentos à flor da pele. O burburim continua, sons cruzam-se no ar, conversas dispersas chocam na atmosfera, puzzles desconexos de vidas. Tento apanhá-los mas não consigo, a desconexidade completamente simples afecta-me, demasiada imperfeição perturba-me o espírito, um espírito à procura da verdade, uma busca incessante pela verdade interior. O mistério do desconhecido atrai-me e repugna-me, suga-me para uma cruzada, repele-me para a ignorância permanente.

Boundaries

Sentas-te e olhas em frente. Uma janela se abre, os dedos movimentam-se, movidos por algo invisível. Inconscientemente as letras se juntam, castelo de palavras se moldam ao som de divagações... devaneios coincidentes e descoincidências teóricas, ironias que combinadas moldam um magnetismo, algo cativante... Um cordão umbilical se constrói, impede o corte, torna-se difícil de separar... O tempo passa, mas o magnetismo permanece. Tenta-se parar mas não se consegue, a razão não obedece, desobedece ordenadamente, conduzida, levada, dirigida por uma vontade, uma mão invisível que impele... uma tentação que não desaparece, permanece intacta, à espera de ser renovada...

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Some time ago

Sento-me num pequeno banco. À minha volta quadrados, rectângulos, formas geométricas numa moldura, em suma, quadros. Repouso, respiro fundo e olho. Rodeiam-me obras, pinceladas, tinta, luz, sombra, o génio de alguém. Observo e tento imaginar, descobrir, o porquê deles. Olho aquele sorriso, simpático mas misterioso, cativante também, os lábios carnudos desenhados ao pormenor cada contorno, cada imperfeição. Aquela musa, calma e silenciosa, olhar furtivo e azul, lendo a alma do observador, os seus meandros mais profundos. Aquela paisagem, a luz solar que entra, que ilumina cada rosto, cada alma humana imortalizada em tinta.

Sento-me num pequeno banco. À minha volta, vultos pairam nas telas, homens presos para sempre no génio de alguém. Personagens reais desenhadas, os seus movimentos captados, as suas ilusões, desgraças e felicidades. Estou sentado, os outros transeuntes passam mas não ficam. Porque não vêem? Porque não observam? Porque passam como se fossem um grupo de pedintes, aqueles quadros, um grupo de pedintes de quem se olha só de soslaio...

Sento-me num pequeno banco. À minha volta, arte me rodeia. Arte de quem? Não sei, a minha ignorância não me permite discernir. Mas sei que me sinto em casa a ser observado.
Fevereiro de 2008


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Back from holidays: ensaio sobre o amor

"O amor não mais é do que o conjunto de caminhos labirinticos que conduzem ao vício dos vícios, ao mais sublime privilégio duma vida: a mulher"
Passas incauta no teu passo apressado pelas ruas longínquas dominadas pelo escuro da noite recém caída. Caminhas envolta numa fina névoa misteriosa, onde o fino nevoeiro do dia esquecido meio solarengo trazia-te os incensos já quase ressequidos das desventuras das almas humanas que, iluminadas pela parca luz diurna, desfiavam os nós intermináveis da sua vida boémia. Passeias escondida atrás da tua insignificância para o resto da sociedade mundana, onde tu apenas apareces como mais uma gota de água no meio deste oceano interminável de mentiras, devaneios, loucuras insanas ou momentos esclarecidos de uma lucidez desaparecida atrás do olhar mais fugidio. Caminhas envolta pela tua roupa normal, ordinária na sua parecença de classe média escondida por detrás da tua inenarrável tentativa de parecença com uma qualquer flor que tenta esconder a sua beleza interior, mas o que apenas consegue é adensar o mistério por detrás dessa cortina que te cobre invisivelmente.

O mistério que te rodeia é o mistério que rodeia todas semelhantes a ti. Escondes dentro de ti a preciosidade da tua originalidade, qual diamante único que tenta encontrar guarida na gruta mais profunda onde apenas consegue ver meros lampejos de uma luz perdida no horizonte, a luz que te vai corromper nas agruras de uma comunidade envolta na mentira e na luxúria. Anseias chegar ao teu ninho que te salva das impurezas que te rodeiam, ao teu porto de abrigo onde te podes sentir solitária e, finalmente, envolta nos teus próprios pensamentos que não podem ser quebrados de forma fácil, pois fazê-lo equivale a destruir o castelo de cartas onde assenta a tua alma e o teu espírito. A tua beleza salta à vista de qualquer espelho, de qualquer olhar preso a uma esquina ou a um banco de jardim, distraido na sua leitura ocasional diária, tentando esquecer os problemas que lhe causam amargura de espírito e acidez de sofrimento, folheando de forma lânguida as páginas que encerram dentro de si linhas que escapam à sua mente no mesmo momento em que as observa pela primeira vez. Mas quando passas, incauta no teu passo sonoro e arrepiante na sua tranquilidade amorfa, esse olhar de leitor sobe pelo ar e detém-se por momentos em ti. E apenas consegue ver algo parecido com uma deusa perdida pelas histórias longínquas da mitologia da Antiguidade mais esquecida pela memória humana.

Dentro do teu pequeno espaço, encerras uma redoma de segredos, de pesadelos, de sonhos, de utopias, de platonismos que apenas tu consegues perceber. Tentas escondê-lo, mas a tua beleza não mais é do que o sinal de que as musas existem, que as deusas existem, que todos os caminhos são apenas dificuldades momentâneas para alcançares o mito que apenas parece ser alcançável aos espíritos mais intrépidos. Não, tentas recusar a inevitabilidade do destino, mas ele aparece sempre, atrás de ti, com um sorriso lancinante ajudando-te a compôr o teu cabelo e a tua figura, para mais uma saída onde a tua beleza irá sobressair. Tu não mais és do que a representação máxima do sonho imaginário que apenas se julga possível no estado mais exarcebado do platonismo ideológico daquilo a que se pode chamar de "romantismo", mas que não mais é do que uma droga permanente que te destrói os sentidos e te deixa num estado de profunda sonolência. Até que um dia percebeste a mais atroz das verdades, aquela que, subrepticiamente, descobriste naquele dia solarengo, depois de um olhar...