terça-feira, 6 de setembro de 2011

Back from holidays: ensaio sobre o amor

"O amor não mais é do que o conjunto de caminhos labirinticos que conduzem ao vício dos vícios, ao mais sublime privilégio duma vida: a mulher"
Passas incauta no teu passo apressado pelas ruas longínquas dominadas pelo escuro da noite recém caída. Caminhas envolta numa fina névoa misteriosa, onde o fino nevoeiro do dia esquecido meio solarengo trazia-te os incensos já quase ressequidos das desventuras das almas humanas que, iluminadas pela parca luz diurna, desfiavam os nós intermináveis da sua vida boémia. Passeias escondida atrás da tua insignificância para o resto da sociedade mundana, onde tu apenas apareces como mais uma gota de água no meio deste oceano interminável de mentiras, devaneios, loucuras insanas ou momentos esclarecidos de uma lucidez desaparecida atrás do olhar mais fugidio. Caminhas envolta pela tua roupa normal, ordinária na sua parecença de classe média escondida por detrás da tua inenarrável tentativa de parecença com uma qualquer flor que tenta esconder a sua beleza interior, mas o que apenas consegue é adensar o mistério por detrás dessa cortina que te cobre invisivelmente.

O mistério que te rodeia é o mistério que rodeia todas semelhantes a ti. Escondes dentro de ti a preciosidade da tua originalidade, qual diamante único que tenta encontrar guarida na gruta mais profunda onde apenas consegue ver meros lampejos de uma luz perdida no horizonte, a luz que te vai corromper nas agruras de uma comunidade envolta na mentira e na luxúria. Anseias chegar ao teu ninho que te salva das impurezas que te rodeiam, ao teu porto de abrigo onde te podes sentir solitária e, finalmente, envolta nos teus próprios pensamentos que não podem ser quebrados de forma fácil, pois fazê-lo equivale a destruir o castelo de cartas onde assenta a tua alma e o teu espírito. A tua beleza salta à vista de qualquer espelho, de qualquer olhar preso a uma esquina ou a um banco de jardim, distraido na sua leitura ocasional diária, tentando esquecer os problemas que lhe causam amargura de espírito e acidez de sofrimento, folheando de forma lânguida as páginas que encerram dentro de si linhas que escapam à sua mente no mesmo momento em que as observa pela primeira vez. Mas quando passas, incauta no teu passo sonoro e arrepiante na sua tranquilidade amorfa, esse olhar de leitor sobe pelo ar e detém-se por momentos em ti. E apenas consegue ver algo parecido com uma deusa perdida pelas histórias longínquas da mitologia da Antiguidade mais esquecida pela memória humana.

Dentro do teu pequeno espaço, encerras uma redoma de segredos, de pesadelos, de sonhos, de utopias, de platonismos que apenas tu consegues perceber. Tentas escondê-lo, mas a tua beleza não mais é do que o sinal de que as musas existem, que as deusas existem, que todos os caminhos são apenas dificuldades momentâneas para alcançares o mito que apenas parece ser alcançável aos espíritos mais intrépidos. Não, tentas recusar a inevitabilidade do destino, mas ele aparece sempre, atrás de ti, com um sorriso lancinante ajudando-te a compôr o teu cabelo e a tua figura, para mais uma saída onde a tua beleza irá sobressair. Tu não mais és do que a representação máxima do sonho imaginário que apenas se julga possível no estado mais exarcebado do platonismo ideológico daquilo a que se pode chamar de "romantismo", mas que não mais é do que uma droga permanente que te destrói os sentidos e te deixa num estado de profunda sonolência. Até que um dia percebeste a mais atroz das verdades, aquela que, subrepticiamente, descobriste naquele dia solarengo, depois de um olhar...

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