terça-feira, 13 de setembro de 2011

Extâse Romano

Ele despertou do seu torpor, com um violento bafo de areia na cara. Esfregou os olhos e recuperou os sentidos. O Coliseu estava cheio , sem um único lugar vazio, ao seu lado um velho romano assistia extasiado ao espectáculo que decorria. Os seus olhos estavam esbugalhados de extâse, as suas feições contorciam-se à velocidade das hormonas humanas mais selvagens, um sorriso lunático cravava-se a cada segundo. Em baixo na arena, dois gladiadores lutavam contra a morte, degladiavam pela glória popular sedenta de sangue. O Coliseu fervilhava num barulho constante, o público vibrava a cada golpe, urros uivavam por cada gota de sangue espalhada pela arena escaldante. Um cheiro a suor, fedor de morte, de sangue coalhado seco, vermelho na arena, invadia a atmosfera. O lado selvático cresceu quando um dos gladiadores cortou uma das mãos ao outro. O velho que se sentava ao seu lado levantou-se de rompão, erguendo os braços num grito louco de extâse, onde se lia o prazer da morte personalizada. A mão do gladiador estava empapada em sangue, repousada no chão, o gladiador cambaleava em redor dum pântano vermelho. Sentado do seu lugar, ouviu o barulho da multidão crescer sonoramente, gritava-se pela morte, exigia-se sangue e fedor putrefacto. O gladiador sem mão ajoelhou-se sem forças e foi então que ele o viu, o imperador, na sua impecável túnica branca, a levantar-se e a estender o braço. Após uma leve hesitação, o polegar baixou, a multidão silenciou-se, esperando. Algo brilhante viajou pela atmosfera e uma cabeça rolou. O culminar da tempestade popular atingiu o seu limite, uma enorme onda de raiva alegre e regozijada encheu-lhe os ouvidos, a morte era celebrada. Ao seu lado, no momento em que a cabeça rolou lá em baixo na arena, o velho rugiu de extâse, os seus olhos bebiam o sangue espalhado em gotas e poças, a língua passou demoradamente pelos lábios saboreando. O ritual cumpria-se e ele sabia que não lhe podia escapar.

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