quarta-feira, 13 de julho de 2011

A breathless speach

A noite prolonga-se pelo tempo adentro e o exterior do teu ninho de protecção está agreste. Não consegues largar o teu pouso solitário, deitada como tu estás na tua cama de veludo que te mascara as feridas interiores da tua alma, tentando remendar na tua pele aquilo que o teu coração se mostra incapaz de reparar. Fazes um esforço para te levantares, mas não te sentes capaz de largar o ninho que tu própria criaste, a redoma que tu própria te esforçaste para erguer à tua volta, qual escudo que visava a tua protecção, mas que apenas te levou ainda mais para a queda acentuada. Qual anjo tu surgiste no mundo exterior, qual anjo enigmático caminhando no teu passo leve e despreocupado, num sorriso enternecedor e apaixonante, com um olhar expressivamente triste na sua imensidão sensual de um sussurrar eterno e divino.

Lá fora apenas consegues captar o som da chuva a bater furiosamente contra os vidros da tua janela, a última fronteira para o teu mundo interior. Ouves o vento, furioso, a fustigar o teu ninho apressadamente construído sobre bases efémeras de um amor condenado ao fracasso genuíno de uma casa construida sobre as falsas fundações de uma esperança catalisada pela utopia idealista. Viras as costas e fechas os olhos, sentindo aquela chuva e aquele vento a tentarem penetrar no poço infindável do teu sofrimento que se revela atroz na sua duração. Respiras fundo e decides enfrentar o impossível; levantas-te e aproximas-te da janela, lentamente, num passo de medo incontrolável. A receio levas a tua mão delicada a tocar delicadamente no vidro da janela, ouvindo com maior acuidade as balas de água que cada vez mais fustigam o teu mundo. E, lentamente, começas a sentir o frio do vidro a prolongar-se pelo teu corpo e, instintivamente, fechas os olhos.

A tua mente anda para trás a uma velocidade estonteante e começas a relembrar-te. Aquela droga platónica que invadiu o teu coração, a confirmação térrea da utopia idealizada naquelas tardes passadas com os pés a balançar na tua falésia preferida num pôr-do-sol para sempre inesquecível, ou naquelas noites mais escuras e silenciosas em que apenas ouvias o silêncio ensurdecedor dos teus pensamentos, com a banda sonora da maré ao fundo na batalha intemporal e divina contra a memória eterna da terra. Aquela droga alucinante que te encheu de felicidade, que te transportou para a dimensão palaciana e principesca do platónico, do inatingível pelas armas naturais do homem mais mundano e indiferente aos labirintos intermináveis do romantismo. Tudo para apenas sentires as feridas a abrirem-se como chagas quentes acordadas pelo ferro quente e abrasador da dor torturante do sonho desfeito e da esperança destruída por mil facas geladas do engano e da traição, cravadas profundamente nas profundezas mais negras do teu coração, destruindo-o lentamente e com um sorriso de satisfação diabólica. Para depois surgir a indiferença e o desprezo, qual língua afiada da traição mais sublime e do sofrimento mais subtil, cravando cada vez mais as feridas incuráveis no teu espírito, encarnando para sempre a tua alma como um corpo muribundo, arrastando-se qual vagabundo sem destino pela terra dos perdidos. Viste o teu amor platónico, pensas que o viste; mas o que na verdade viste foi o espelho da tua própria ingenuidade. Ingenuidade essa que te matou o coração por completo, esvaziando-o e agora, não passas apenas de uma mera sombra da grandeza que já foste.

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