quinta-feira, 14 de julho de 2011

A dark road

A tortura é demasiado recente para a poderes aguentar, a ferida é demasiado profunda para poder sobreviver sem se conseguir alimentar das tuas próprias forças. Tentas continuamente evitar pensar nas agruras do teu destino, mas as forças que te escapam por entre as frestas dos teus dedos são sugados pelo buraco negro da tristeza divina. Tentas disfarçar a barragem de lágrimas que tenta sulcar o teu rosto, mas as chagas apenas são a mera lanterna que arrasta a dor para o exterior, num grito eterno que sucumbe ao sorriso mais sarcástico do destino. A tua vida mais não é do que uma bola que o destino acaracia nas suas mãos, docemente, enquanto desfia os novelos dos atalhos que teimas em tomar. Mas no fundo, o que ele apenas pretende é esticar ao máximo a corda da possibilidade da tua alma, esticá-la ao máximo até que finalmente possa partir e rir-se do teu próprio desastre.

A montanha é demasiado alta para ti, não consegues ver o seu cume, não consegues vislumbrar o fim para tanta ferida criada e alimentada pelo soro doentio do sentimento perdido. À tua volta ouves zombar a brisa gelada da nua e crua verdade, que fustiga a tua pele como mil facas afiadas que te tentam trazer à razão, à doce realidade do beijo roubado. O dia rapidamente desapareceu da tua face, o teu rosto tornou-se numa nuvem cinzenta e pesada carregando dentro de si o fardo intemporal. Estás rodeada da luz invisível da escuridão, rodeada pela tua própria redoma que te encerra dentro do labirinto interminável das tuas dúvidas penosas. Tentas estender o teu passo, mas apenas consegues captar o som das redes que te prendem às mãos do destino. Mais não és do que uma mera marioneta movida pelos caprichos de um destino sem piedade e sem coração. Porque o teu coração já não existe, o teu pujante coração tornou-se na mais negra das rochas, na mais dura das pedras, na mais insensível das flores.

Perdida tu estás, perdida no tempo eterno, perdida na batalha divina, perdida para sempre no teu vício doentio. Parar não é opção, cair é blasfemo, protestar é herege, continuar como uma sombra errante é a tua única solução platónica.

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